Nunca fui aquele tipo de pessoa que morre de medo das coisas. Tem gente que só pensa em tudo de ruim que pode acontecer se você sair à noite, se você ficar na rua até tarde, se você viajar por aí, se você simplesmente pegar um ônibus para um lugar mais longe. Mas também nunca fui uma pessoa inconsequente. Se eu não sabia como voltaria depois daquela festa, pensava duas vezes antes de ir. Se não sabia se saberia me virar naquela cidade, melhor ir com só o namorado. Sempre pensei nas coisas com antecedência, tudo certinho, bem planejado.
Mas se há algo que sempre fui, é ansiosa. Se eu tinha que ir a algum lugar que eu não conhecia eu já pensava logo: “ai meu Deus, será que vou conseguir pegar esse ônibus direito? E se eu não souber onde descer? E se eu perder o horário e não conseguir chegar lá a tempo? E se [insira aqui qualquer outra dificuldade ou problema que nossa cabeça cria quando temos ataques de ansiedade].
No final do ano passado perdi o melhor emprego que tive e recebi uma graninha da rescisão do contrato. Sempre tive o sonho de ir ao exterior, mas minha família nunca teve o dinheiro necessário para isso. Então não pensei duas vezes. Comecei a planejar minha viagem para Europa. Eu gostaria que meu namorado fosse comigo, mas ele não poderia ir entre abril e maio, então tomei a decisão de ir sozinha. Escolhi os países sozinha (Suíça, Itália, Alemanha, República Tcheca, Áustria e Hungria), escolhi as datas sozinha, reservei os hostels sozinha, procurei as passagens sozinha, embarquei sozinha e cheguei sozinha. Mas assim que pus meus pés em Zurique, não me senti sozinha. Fui acolhida pela cidade, pelas pessoas maravilhosas e amigáveis. Fui acolhida por mim mesma. Eu não estava sozinha; estava livre.
Em nenhum dos países pelos quais passei me senti com medo. Um pouco insegura sim, quando vinham pessoas me pedir dinheiro na rua e eu tinha que prestar atenção se não tinha uma outra atrás de mim tentando me roubar em Milão. Ou quando eu tive que sair do hostel às 5:30 da manhã para pegar o ônibus e a rua estava deserta, exceto por dois bêbados que estavam falando alto e eu achei melhor mudar meu caminho para não ter que passar por eles, em Praga. Mas foi só isso. Fui bastante cantada em Zurique, mas nunca assediada. Fui abordada nas ruas, mas apenas por pessoas simpáticas que queriam conversar comigo e me conhecer. Fui a um show de darkwave na Alemanha e as pessoas respeitaram meu espaço pessoal. Os homens que estavam na minha frente chegaram a se afastar um pouco para eu poder ver melhor o palco, e perguntaram se eu estava bem ali. Foram três semanas em que pude conhecer a mim mesma e a pessoas do mundo inteiro. Fiz amizades das quais jamais esquecerei, mesmo que tenham sido amizades de um dia só. Senti coisas que não pensei ser capaz de sentir. Despertei sentimentos que estavam enterrados em mim. Conheci pessoas que me tocaram de uma forma que elas nem imaginam. E eu percebi algo que há muito tempo não percebia: eu estava viva. E nossa, como isso me deixava feliz!
Não tive nenhuma crise de ansiedade enquanto estive fora. Peguei ônibus entre todos os países, metrô, bondes. Não tive medo de me perder, nem de ir para o lugar errado. Me virei muito bem, e quando precisei simplesmente pedi ajuda e fui prontamente ajudada. Em todos os lugares. A parte mais difícil de toda a viagem foi, sem dúvida, o último dia. Minha viagem começou e terminou em Zurique, o lugar que mais amei. Dei uma última volta pelo centro da cidade, sentei à beira do lago uma última vez, e ali eu chorei. Chorei muito, de alegria por ter tido essa oportunidade, de tristeza por ter que ir embora, e também porque estava muito confusa sobre meus sentimentos. Sentia saudade do meu namorado, dos meus pais…mas mesmo assim não queria ir embora. É complicado esse sentimento, tudo misturado dentro de você.
O que me move agora é saber que viajar não é tão difícil como parece. Estou em busca de um emprego para poder juntar dinheiro e viajar novamente. Um ano. Essa é minha meta. Em um ano estarei pisando fora do Brasil de novo, e quem sabe se dessa vez eu volto ou não? O mundo é meu e eu sou do mundo.
Danielle Klier