Domingo, novembro, chuva. Essa tríade ajuda a pensar o que vivemos. Em meio ao feriado da Consciência Negra e de um campeonato regional de motocross, resolvemos conhecer a cidade de Ouro Preto. Como bons historiadores que somos, já estava se tornando uma falha de caráter não conhecer a cidade e aproveitamos que o Do tinha um congresso de teoria da História para participar e fomos conhecer. Seria mais um check na longuíssima lista de cidades que queremos conhecer ainda nesta vida!
A história de como a gente foi convidado a adentrar o universo da poetisa norte-americana Elizabeth Bishop começa algumas semanas antes de colocarmos os pés nas ladeiras ouropretanas. Entre buscas e mais buscas de hospedagem, não encontrávamos um lugar que de fato, nos encantasse e coubesse no bolso. Tentando pesar se o melhor era irmos para um lugar mais confortável ou economizar, decidimos investir o nosso orçamento apertado em aproveitar o que a cidade tinha oferecer já que passaríamos pouco tempo no quarto. Acabamos nos decidindo por um quarto simples, numa casa 4:20, em que moravam dois universitários da UFOP, que estavam cursando os seus mestrados na área de filosofia e história. Legal! Já teríamos com que conversar temas afins. A emoção ha começou na chegada pois o taxista nos deixou em uma viela-ladeira toda de pedra e limo. Arrastamos a mala uns bons minutos até encontrar a viela que ninguém conhecia. Pois bem, fomos recepcionados logo cedinho e o café que estava incluso na nossa estadia, não se realizou em nenhum dos dias. A promessa era um café da manhã com pães, frios, manteiga, suco e frutas. Melhor impossível, não é? Mas, não rolou.
Para pagar mais barato, além de pegarmos um quartinho em um lugar que era a maior vibe república de universitários, com direito a festinhas e a acordar com um casal fazendo aquele sexo crazy no quarto ao lado, estávamos um pouco afastados do centro. Nada demais para uma boa paulistana que antes de morar no centro da cidade, contava os trajetos em horas. A caminhada até o fervo ouropretano nos tomava cerca de 25 minutos. E onde entra a Elizabeth na história?
Foi numa dessas caminhadas ao centro, que decidimos sair pra comer e enfrentar a chuva que vinha de mansinho, logo depois perceberíamos que foi ousadia demais. Estávamos com fome, domingo à noite e resolvemos insistir no caminho dividindo um guarda chuva quebrado, que o Do já havia insistido várias vezes para eu trocá-lo.
Nossa empreitada não deu lá muito certo e paramos no meio do caminho, em frente a uma casa de arquitetura colonial. Foi me dando aquela agonia e o Do me disse que precisávamos ter um plano B. Oras, pra mim, era mais do que óbvio: vamos pedir carona aos carros que passavam jorrando água em nós. Ele não aceitou, ideia muito descabida para o homem. E, agora? Estava lá eu confabulando mil lamentações e culpas: devíamos ter trazido comida pra casa, eu devia ter comprado um novo guarda-chuva e claro, não devíamos ter saído na chuva. Diante do sufoco, a ideia era respirar e o plano B que se tornou mais aceitável pro Do foi esperar a chuva passar. WHAT? Respirei e fiquei ali me corroendo, quando a porta da casa em que tivemos toda essa espera abriu e uma senhora apareceu, comentou sobre como Ouro Preto nos pregava essas surpresas. Foi, então, que ela nos ofereceu abrigo até a chuva passar. Aquilo não parecia ser real nem seguro para a minha mente paulistana. Afinal, como alguém abre a porta de casa para um casal estranho sendo apenas gentil? A cidade grande estraga a gente.
Foi aí que descobrimos o universo da Elizabeth Bishop com uma vista inigualável da cidade de Ouro Preto, que estava marcada naquele momento pela neblina, a chuva incessante e luzes amarelas disformes. A senhora nos mostrou quase todos os cantos da casa e contou que ali foi morada da poetisa nos anos 70 e que os atuais proprietários decidiram manter as características do lugar, preservando os móveis e outros artefatos. A família de Belo Horizonte acaba visitando pouco a casa e a deixou responsável pelo cuidado, o mais impressionante é que a dona disse que todo e qualquer admirador do trabalho de Elizabeth pode ser um convidado, como forma de preservação da memória. A nossa conversa fluiu e soubemos, claro, de alguns causos da casa como portas que se mexem sozinhas e lendas do período colonial, o que me deixou com medo suficiente.
A chuva amainou e seguimos o nosso caminho, molhados e de coração quentinho.
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