Por Thaís Carneiro
Sabe aquele sonho louco, que você constrói na cabeça e desconfia se um dia irá se realizar? Pois é, tenho muitos desses pipocando na minha mente, mas me sinto feliz de conseguir afirmar que vários deles conseguir pôr em prática. Aos poucos, fui me desvencilhando das opiniões contrárias às minhas e fui me testando, experimentando possibilidades e me arriscando para fora da minha zona de conforto.
Que eu amo viajar, já não é mais novidade nesse site. Afinal, estou aqui semanalmente há dois anos contando a vocês sobre esse mundo mágico, que mergulhei de cabeça, compartilhando as dores e delícias de ser uma mulher viajante, Sobre viajar sozinha e não estar só e por aí vai. Porém, ainda não comentei como fui parar em solo europeu.
Pois bem, lá em 2003, quando eu estava na escola e tinha os meus 13 anos, fiz um trabalho que envolvia as disciplinas de História e Informática. A proposta era a construção da narrativa de um personagem em um meio digital, através de um programa que eu não me lembro o nome e assim, produzir uma espécie de livro, um e-book antes de existir a própria categoria. Como aluna CDF que eu era, me apaixonei completamente pela proposta e fiquei obcecada por aquilo. Para quem não sabe, sou historiadora e atualmente, faço mestrado na área de História Social, analisando documentações de Soledad Acosta de Samper, uma colombiana que viajou por um mês na Espanha no final do século XIX, apenas com a filha e de trem (Já imaginaram o escândalo, né?). Parênteses fechado, conto a vocês, que inventei uma personagem que era uma mulher, que vivendo em Sevilha, em meio à Guerra Civil Espanhola, se refugiou no Brasil de Getúlio Vargas. Brinquei com as dolls que encontrei pela internet e montei-as com fundos de fotografias do país. Desde então, fiquei apaixonada e me prometi conhecer a Espanha, algum dia.
Os anos passaram e se tornar adulto acaba sendo uma lição difícil para os nossos sonhos. Muitas vezes, o que encaramos como possível quando criança, se torna uma ilusão perigosa e os demais adultos vão nos condenando.
Havia completado dez anos que eu descobri que esse país existia, que coloquei como meta conhecê-lo e eu havia desfeito um relacionamento de cincos anos há poucos meses. Entendi que esse era o momento de me preparar para mais uma aventura. Como para realizá-la, dependia de um pouco mais de planejamento financeiro, me programei para viajar em julho de 2014. Afinal, de onde viria o meu dinheiro? Naquele contexto, eu morava em um dos bairros periféricos da zona norte de São Paulo, aos pés da favela do Boi Maiado, junto com os meus pais e irmã. Trabalhava em uma escola, com uma carga reduzida em relação ao que trabalho hoje e estava fazendo uma pós-graduação lato sensu paga em uma universidade pública (um contrasenso, eu sei). Desde o pé na bunda que tomei, havia feito o que não costumava fazer, gastar dinheiro de modo desenfreado com rolês, viagens e roupas. Queria de alguma forma, preencher o vazio que aqueles anos de abuso me deixaram e reconstruir a minha identidade. Eu, de fato, não sabia muito bem o que estava fazendo no mundo, sabe? Mas eu sabia onde queria chegar, foi o ponto que eu me ancorei.
Em março de 2014, comprei as passagens. Consegui um preço bacana, pois fiquei monitorando alguns meses as oscilações e sabia que deveria me adaptar de algum modo, pois eu não tinha orçamento para me sentir rainha lá. Ia no esquema mochileira e ainda por cima, descolando hospedagem gratuitamente. Consegui através da plataforma social Couchsurfing, que conecta viajantes em troca de hospedagem gratuita pelo mundo inteiro, uma teto em Sevilha e outro em Quéntar, uma cidadezinha ao lado de Granada. Foi impecável! Graças ao meu anfitrião Miguel, de Sevilha, pude conhecer uma das praias mais lindas que já vi, a cidade de Cádiz.
Diário de Bordo: Sevilha, ESP (julho / 2014)
Diário de Bordo: Quentar, ESP (julho/ 2014)
Das surpresas do caminho: Cádiz, Espanha (julho/ 2014)
Faltava a hospedagem de Barcelona e a consegui de uma dessas surpresas loucas da vida. Quando fui a Buenos Aires meses antes, conheci Mer Cè, uma catalã maravilhosa, que no último dia da minha viagem, me apresentou a uma amiga suíça e a um amigo catalão, Fèlix. Foi ele que me abrigou em Barcelona, me cedeu o seu quarto e ofereceu toda a comida que tinha nas suas prateleiras. Chegou a me deixar em seu apartamento com os seus amigos e foi viajar por alguns dias.
Ele morava há um quarteirão da Sagrada Família, construção gigantesca produzida por Gaudí, que ainda está em processo de finalização e tem previsão de término para 2026. A localização perfeita, que eu não poderia pagar. Foi quando pus os meus pés lá, que eu entendi a magnitude de todo o processo que eu estava inserida e chorei.
Tinha válido a pena as horas gastas no transporte público para poder estudar e trabalhar, eu gastava cerca de 3 a 5 horas por dia. As marmitas frias que sacolejavam na minha mochila e muitas vezes, eu tinha que comer no ônibus para dar tempo de fazer todas as atividades. O medo de voltar pra casa às 23h30 da noite, por morar ao lado de uma boca de fumo, em que rolavam assaltos e mais raramente, execuções. Quem nunca ouviu tiros da sala de casa, sorria com o seu privilégio. Eu chorei porque sabia que era esse o lugar que queria ocupar e o meu desejo era ter os meus queridos ao meu lado ali, embasbacados com a luz que ultrapassava aqueles vitrais, o vai e vém de chineses e franceses. Me senti feliz e abraçada pela vida, sabia que ali não seria o fim.
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