luciara ribeiro mulher negra viajante

Eu, mulher, negra, pobre, periférica e viajante.

Por Luciara Ribeiro

Periférica e pobre, a historiadora da arte Luciara Ribeiro nos conta como tornou um hábito ser uma mulher negra viajante pelo mundo.

luciara ribeiro mulher negra viajante

Nasci e cresci em uma família com enormes dificuldades financeiras e em uma situação constante de precariedade. Cresci escutando que viajar não era algo possível para mim, não tínhamos dinheiro para isso. Fui educada a apenas em sobreviver, a auto existir.

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Primeira viagem de avião

Essa situação começou a mudar no ano de 2012, quando passei no processo seletivo de uma bolsa de estudos para realizar um semestre de intercâmbio acadêmico na Espanha. Depois de muitas tentativas frustradas, finalmente uma das bolsas de estudo oferecidas pela universidade onde eu estudava tinha chegado até mim. Aquela foi a minha primeira viagem de avião e a primeira vez que eu poderia me preocupar apenas em estudar.

Desde que minha família migrou do interior da Bahia para a periferia de Mauá, região do ABC Paulista, eu tinha saído do estado de São Paulo apenas uma vez, para participar de um congresso acadêmico no Rio de Janeiro . E isso tinha sido no ano anterior, em 2011.

A notícia do intercâmbio provocou uma mudança em toda a minha família, pois ninguém imaginava que eu tivesse o direito de viajar para o exterior. E foi durante esse período de intercambio que descobri o gosto por viajar. Descobri uma paixão: conhecer lugares novos, experimentar novas sensações, conhecer novas pessoas e culturas.

O direito de viajar

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Voltei a São Paulo querendo construir uma nova relação com os espaços e com o direito de viajar. Passei a organizar o meu tempo, aprendi a viver com o essencial e a manter o controle dos meus gastos. Desse modo, eu consegui fugir em alguns momentos dessa grande selva de pedra.

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Como ter dinheiro para viajar?

Saber que viver com o essencial pode trazer muitos ganhos, como, por exemplo, o fato de aprender a ser mais consciente nesse mundo de consumismo capitalista. Por outro lado, não é fácil economizar dinheiro, isso requer esforço e disciplina. Sempre que eu pensava em comprar algo, me perguntava: Eu preciso realmente disso? Isso é essencial para esse momento? Se a resposta fosse sim, então eu comprava. O fato é que na maioria das vezes a resposta era não, e então eu não comprava. Essas economias me levaram a adotar a filosofia de que “menos é mais”.

Essas economias me ajudavam a conseguir viajar. Alguns vezes essas viagens foram para um estado vizinho, outras vezes para fora do país. Para que isso fosse possível, eu organizei um plano de economia a longo prazo; consegui viajar para os E.U.A e México em uma das minhas férias; e outro ano para a Alemanha, Egito, Grécia e Espanha em outra.

O que as pessoas falaram sobre eu ser uma mulher negra viajante

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Apesar de todos os esforços e privações para alcançar essas pequenas conquistas; eu tive que ouvir, de pessoas próximas e queridas palavras, e julgamentos que me feriam.

Alguns diziam que pelo fato de eu ser tão econômica, eu era uma mão de vaca egoísta e individualista. Outros falaram que eu era muito ambiciosa, que queria ser melhor que as demais pessoas a minha volta. Ou que eu era uma pobre com espírito burguês e mente colonizada. Ainda que pelo fato de conseguir viajar, eu já poderia ser considerada uma pessoa de classe média, pois viajar não era para pobres.

O que sempre me perguntava era o porquê o fato de ser uma mulher negra periférica viajante incomodava tanto?

Isso me feria, não era dessa maneira que eu desejava que as pessoas entendessem o meu interesse por viajar. Infelizmente, aos poucos, essas palavras foram se tornando uma verdade para mim; passei a sabotar os meus desejos e planos. Fui morrendo por dentro.

Acreditei que eu deveria desistir daqueles desejos, e que, realmente, essas pessoas estavam certas; que viajar não era um direito para uma mulher negra, pobre e periférica.

Essa morte foi forte e profunda, matando uma parte importante de mim. Não posso deixar de ser uma mulher negra viajante apenas porque isso incomoda as pessoas. Não poderia deixar que essas palavras me matassem por completo, e depois de meses me auto boicote; percebi que eu precisava reagir, pois eu também tenho o direito de ser uma mulher viajante.

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Viajar como um hábito

luciara ribeiro mulher negra viajante

As pessoas que faziam julgamentos equivocados tomaram como apoio pensamentos genéricos. Viajar não deveria ser visto como um hábito típico de uma determinada classe social; viajar deveria ser um direito de todos. Viajar para o exterior não é apenas uma “coisa de rico”. Sendo assim, é certo que pessoas de classe média ou elitista possuem mais privilégios e vantagens nesse ponto, mas não podemos deixar que digam que o nosso lugar de pessoas pobres, seja o de ficar estagnado em um mesmo lugar. E se o capitalismo e as estruturas sociais nos nega diariamente o direito de viajar, as pessoas próximas não deveriam reforçar isso.

Ser mulher negra viajante

Por isso, hoje, o meu posicionamento político também inclui forçar a existência do trânsito, do viajar e do mover-se. Sim, quero incomodar, quero ocupar lugares que me foram negados, quero ser feliz, quero me sentir realizada. Tento viajar sempre que possível e não deixarei nunca que matem a mulher viajante de dentro de mim.

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15 comentários em “Eu, mulher, negra, pobre, periférica e viajante.

  1. Um lindo relato de uma mulher negra viajante que mostra que todos podemos conquistar espaço e sonho. Uma linda história que traz grandes lições como determinação para alcançar seus objetivos. Parabéns! Que orgulho da mulher brasileira.

  2. Sua história é fascinante. Que bom, por você que você virou o jogo da auto-sabotagem. Que bom que não se negou o direito de ser feliz, simplesmente por causa do julgamento dos outros. Como diz a música: “É PRECISO SABER VIVER”, “A VIDA [MINHA CARA} SÓ SE DÁ PRA QUEM SE DEU”.

  3. Que linda história!! Ela está certíssima! As vezes crescemos com certas “verdades” impostas a nós e temos que encarar essa barreia e ultrapassá-la pois sempre podemos conquistar mais! Adorei o relato, verdadeiramente inspirador!

  4. Adorei conhecer a Luciara. É importante demais que recortes sejam feitos e possamos ouvir as vozes diferentes do padrão. No geral, tudo o que se lê sobre viagem é produzido por e para pessoas brancas, de classe média/alta, heterossexuais/cis-gênero. Acompanhar essa mulher negra, pobre, periférica e viajante é resistência, é revolucionário! <3

  5. Viajar deveria ser um direito e ‘obrigação’ universal. O nosso mundo seria bem melhor. Como crescimento pessoal, como fator de integração, como modo de respeito intercultural… só vejo vantagens. Obrigado por partilhar a sua inspiradora história 🙂

  6. Gostei muito de seu relato, parabéns por ter feito boas escolhas, economizado, ter ganho uma bolsa e viajado. É muito bom quando conseguimos fazer o que gostamos e viajar é tudo de bom.

  7. Estou emocionada com esse post! Que linda! Que forte!!! Parabéns pelas suas conquistas e sim! Você pode e conseguirá tudo!!!! Bora viajar e ser feliz!!!

  8. Me identifiquei muito com sua fala principalmente em relação à ressignificar o orçamento para direcionar a grana para o que é essencial para você, saber lidar com dinheiro é um tarefa de autoconhecimento, pois o que é importante para cada pessoa é singular, se vivemos consumindo alimentando um status social acumulando coisas que não nos atribuem valor pessoal o resultado com certeza será acúmulo e mais acúmulo de experiências vazias e bens que não apresentam “valor” afetivo e funcional, promovendo o sentimento de vazios de uma vida atendendo as expectativas sociais. Dinheiro é um meio que pode nos conduzir para realização dos nossos sonhos, mas para isso precisamos saber o que se deseja e nos faz feliz, traçar metas, abrir mãos do que não é essencial e o mais importante de tudo está focada nos nossos objetivos, pq as pessoas sempre irão questionar as nossas escolhas.

    1. Super concordo! Dinheiro é um meio e não, um fim. Saber lidar com ele e com todas as demandas do que a sociedade nos impões só é possível de forma saudável, se entendermos melhor quem a gente é e que lugar ocupamos no mundo.

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