Por Gabriela B. Maluf
Nunca fui muito fã de rotina mas aos 19 anos comecei a trabalhar num emprego convencional, sou do tipo independente que gosta de ter a própria grana e não pedir nada a ninguém.
Com 39, depois de cursar Direito, passar na OAB e cursar três pós-graduações, percebi que após 14 anos de trabalho intenso, eu não tinha conseguido realizar meu principal desejo, que não era de casar, ter filhos, uma casa e um carro, mas de viajar pelo mundo.
Quando eu completei 15 anos, minha mãe me disse aquela clássica frase que muitas meninas escutam: “…minha filha está ficando mocinha, logo vai casar e ter filhos…”. A minha resposta, eu me lembro como se fosse hoje: “…Mãe eu não quero casar e ter filhos, eu quero estudar e viajar…”
Até os 39, cumpri com louvor a parte de estudar, mas a de viajar ficou em déficit e comecei, a sentir necessidade de recuperar o tempo perdido.
Logo percebi que não é possível recuperar o tempo perdido, o que você deixou de viver num determinado momento, não volta, e você pode até fazer algo semelhante depois, mas com outra idade, de outra forma e com outra visão. Por isso, não perder mais tempo se tornou uma prioridade.
Nunca tinha saído do país, viajava sozinha pelo Brasil a trabalho e pouco conseguia conhecer dos lugares por onde passava. Cansada e insatisfeita com o direcionamento que eu havia dado à minha carreira, resolvi tirar um ano sabático em 2017, o ano em que completei 40 anos para limpar a mente e poder redirecionar minha vida.
Não comentei com muitas pessoas a minha decisão de pedir demissão, mas logo que a notícia se espalhou, começaram as críticas. Eu estava no “auge” da minha carreira em termos salariais, mas estava vivendo no automático, comendo, dormindo e pagando contas.
O que mais ouvi foram perguntas clássicas como: Você vai sozinha? Não é perigoso? E depois como vai se recolocar com mais de 40?
Segui em frente sem saber que um ano sabático precisa de muito mais planejamento do que eu imaginava e os primeiros dois meses ociosos foram dedicados a isso e a descansar pois eu constatei que estava cansada demais e não tinha energia para fazer as coisas que estava planejando.
Eu gosto de andar a pé, de bichos, de praia, de mato, de natureza e quis fazer tudo de forma independente, sem auxílio de agências, não fiquei em hotel, não usei táxi, nem transfer, 90% dos passeios fiz por conta própria e não despachei bagagem levei apenas a minha mochila e não fiz compras. Visitei 6 países.
A viagem tinha como objetivo viver uma experiência local e não turística. E assim foi. Conheci pessoas e lugares fantásticos.
Para quem não tinha experiência em viagens internacionais, sair mundo afora com 40 anos e uma mochila não foi tão simples como imaginava. Medo e perrengue fazem parte do pacote.
É claro que 40 anos não é velha, mas você está numa idade intermediária onde não é mais precisamente uma garota, e não é o mais comum alguém dessa idade estar rodando por aí ao invés de estar cuidado de marido, filhos, casa e trabalhando loucamente.
Engano meu, ao sair pela estrada encontrei gente de todas as idades fazendo todo tipo de coisa, daí mais uma lição aprendida: nos deixamos influenciar pela cultura que nos cerca, sem nos dar conta de um universo de possibilidades.
Somos bombardeados o tempo todo com o conceito de sucesso da sociedade e incentivados a cumprir etapas como se a vida fosse uma competição, para simplesmente um dia acordar e perceber que nada está fazendo sentido e que aquela promessa de felicidade pós-sucesso, não existe.
Afinal, o que é sucesso? Demorei para perceber isso e entender que precisava parar de buscar aprovação dos outros que nada sabem sobre mim e me permitir ser e fazer o que eu quiser, mas nunca me conformar em estar infeliz.
Agora, só posso dizer que, não importa o que está por vir, não me arrependo nem por um segundo, pois viver esse ano foi um marco, uma mudança de paradigma e a certeza de poder viver minha vida atendendo aos meus anseios e não ao que a sociedade espera de mim.
Estou revigorada, com a mente descansada e cheia de novas idéias, além de motivada a continuar minha carreira redirecionando-a para algo que tenha realmente a ver com a minha essência.

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