Por Mariana Bueno, do blog Mariana Viaja
A falta de companhia nunca foi um impedimento para que eu deixasse de fazer algo. Há muito tempo moro sozinha e longe da minha família, então mesmo tendo vários amigos, sei que nem sempre vai ter quem queira ou possa fazer as mesmas coisas no mesmo momento que eu. Então fui me habituando. Ir ao cinema, ao teatro, à praia, a uma exposição… sozinha. Por que não? Sempre foi tranquilo. Mas viajar sozinha era algo que nunca tinha passado pela minha cabeça, talvez por nunca ter me visto nessa situação. Até que depois de um longo período sem tirar férias – por mudanças no trabalho e uma pós-graduação – consegui marcar.
Eu estava louca para viajar, pois é algo que sempre gostei e, como disse, já tinha um tempo que não viajava. Ninguém ia ter férias naquela mesma época para viajar comigo, mas também não havia a menor possibilidade de escolher passar as férias em casa ou descansando. Eu tinha de ir para algum lugar! Depois de muito pensar, conversar com amigas que já tinham vivido essa experiência, decidi que iria. Escolhi um destino que eu já queria conhecer há tempos, mas que não sabia de ninguém que também quisesse: Cuba. Já que era para ir sozinha, que fosse para um lugar que, mesmo em outro momento, eu não teria mesmo companhia. No melhor estilo “vai e, se der medo, vai com medo mesmo”.
Fiquei uma semana. Fiz vários passeios, conheci várias pessoas, foi ótimo para conhecer melhor o estilo de vida local e conversar. Me diverti. Confesso que me senti, sim, sozinha algumas vezes, não vou negar. Acho que era também pelo meu momento e por ser a primeira vez. No geral, a experiência foi incrível! E por experiência incrível entenda-se que não foi tudo maravilhoso 100% do tempo. Mas é um aprendizado que ninguém tira!
Depois disso já fui para vários outros lugares tanto no Brasil como no exterior. Praias do Nordeste, capitais do Sul, Nova York, Paris , Portugal… E cada vez me sinto mais à vontade dentro do perfil “mulher que viaja sozinha“. Depois que criei o blog, em 2015, compartilho minhas histórias e já tive retorno de outras mulheres que também viajam assim. Esse contato, essa troca, é muito legal e nos fortalece.
Sei que para muitas ainda é uma decisão difícil e eu entendo. Também tenho meus grilos. Vivemos em uma sociedade machista, estamos realmente mais vulneráveis. Fomos e ainda somos, no geral, criadas para nos retrairmos, e não para enfrentarmos a vida. Então acho natural ter insegurança – que a gente infelizmente já tem no dia a dia nas nossas próprias cidades. O que me incomoda mais é o julgamento, é ver que em 2017 uma mulher que faz valer sua independência ainda é julgada e vista como “presa fácil”, ou louca ou até como coitadinha.
Mas, aos poucos, vamos mudando tudo isso. A mudança da sociedade começa pela gente. Pelas nossas atitudes, ainda que pequenas. Por nossa postura, nossos passos que nos levam cada vez mais além e por nossas histórias que mostram que é possível, sim. Mais que isso: é necessário! E ao contrário do que muita gente pensa, viajar (ou fazer qualquer outra coisa sozinha) não significa ser solitária ou viver na solidão. Significa ser dona de si, se fortalecer, tomar suas decisões sem ligar para o que os outros vão pensar e, principalmente, ter uma opção a mais, uma nova possibilidade de aproveitar a própria companhia!
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